Doença do sono incurável afecta 800 crianças que tomaram vacina contra H1N1

Doença do sono incurável afecta 800 crianças que tomaram vacina contra H1N1


Cerca de 800 crianças europeias desenvolveram narcolepsia – uma doença incurável que causa crises de sono incontroláveis durante o dia – após terem recebido a vacina Pandemrix, contra o vírus da gripe H1N1 («gripe suína»), produzida pela GlaxoSmithKline.

A jovem Emelie Olsson, de 14 anos, é uma delas. Ela tem dificuldade em manter-se acordada durante o dia e perde aulas com frequência por causa do problema. Ao acordar, por vezes fica paralisada, com falta de ar e sem conseguir pedir ajuda. Além disso, tem pesadelos e alucinações.

Países como a Finlândia, a Noruega, a Irlanda e a França também registaram um aumento nos casos de narcolepsia em crianças após a implementação da vacina. Por causa disso, a agência reguladora de remédios europeia decidiu restringir o uso da vacina em jovens abaixo dos 20 anos.
O médico responsável pela área de vacinas da GlaxoSmithKline, Norman Begg, afirmou que a companhia está comprometida em solucionar a questão, mas também disse que ainda não há uma evidência científica suficiente para associar a vacina à doença.
Já para o médico Emmanuel Mignot, da Universidade de Stanford (EUA), considerado um dos maiores especialistas em narcolepsia do mundo, não há dúvidas de que a vacina fez aumentar a ocorrência de narcolepsia. Mas ele concorda que ainda é preciso fazer mais pesquisas.
Mais de 30 milhões de pessoas de 47 países receberam a vacina da Glaxo entre 2009 e 2010. A companhia diz que 795 pessoas foram diagnosticadas com narcolepsia na Europa desde o início do uso da vacina.
Os cientistas ainda estão a pesquisar o que, na vacina, pode deflagrar a doença. Alguns sugerem que é o adjuvante, chamado de AS03. Outros, que é o próprio vírus H1N1 o responsável por causar narcolepsia em pessoas geneticamente predispostas.
Mas os especialistas concordam que é preciso cautela para não gerar pânico na população. «Ninguém quer ser o próximo Wakefield», disse Mignot, referindo-se ao médico britânico Andrew Wakefield, que perdeu a sua licença após ter associado a vacina contra sarampo, papeira e rubéola ao autismo.
Equipas independentes já publicaram estudos revistos por outros especialistas na Suécia, na Finlândia e na Islândia. Todos eles mostraram que o risco de narcolepsia aumentou de sete a 13 vezes entre as crianças que tomaram a vacina, em comparação com as que não tomaram.